Redação do Site Inovação Tecnológica
Enquanto o ambiente marinho corrói rapidamente o
concreto moderno, amostras de concreto romano são coletadas intactas no fundo
do mar. [Imagem: D. Bartoli photo, courtesy of J.P. Oleson]
Em uma
época conhecida como Era do Conhecimento ou Era da Tecnologia, pode soar
estranho o que fez uma equipe internacional geólogos e engenheiros - eles foram
procurar uma solução para um problema moderno no passado remoto.
Trabalhando
para tornar o concreto usado na construção civil mais durável e mais
sustentável, Marie Jackson e seus colegas encontraram inspiração no concreto
fabricado na Roma Antiga.
Jackson
foi orientada pelo brasileiro Paulo Monteiro, atualmente professor na
Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos.
Concreto
romano
O
concreto romano, fabricado há mais de 2.000 anos, continua sustentando
estruturas, sem sinal de deterioração, enquanto o concreto moderno mostra
sinais claros de degradação apenas 50 anos depois de sua fabricação.
Segundo a
equipe, o segredo está em um composto altamente estável, conhecido como
silicato hidratado de cálcio e alumínio. É esse composto que dá liga ao
concreto romano, que foi usado para construir algumas das estruturas mais
duráveis do mundo ocidental.
O
processo de fabricação do concreto romano também era muito menos danoso ao meio
ambiente do que o atual.
O
processo de fabricação do cimento portland, o principal componente do concreto,
usa combustíveis fósseis para queimar o carbonato de cálcio, ou calcário, e
argilas a uma temperatura de 1.450º C - 7% das emissões globais de CO2 vem da
fabricação de cimento.
A
produção do concreto romano, por sua vez, exigia temperaturas equivalentes a
dois terços da temperatura necessária para fabricar o cimento portland. O
processo, descrito no ano 30 A.C. por Marcus Vitruvius Pollio, engenheiro do
Imperador Augusto, emprega cinza vulcânica, que os romanos combinavam com cal
para formar uma argamassa.
Eles
embalavam essa argamassa e pedaços de pedras em moldes de madeira e mergulhavam
tudo na água do mar.
Ou seja,
em vez de lutar contra os elementos marinhos, os maiores inimigos do concreto
moderno, os romanos aproveitavam a água salgada, tornando-a parte integrante do
concreto.
Essa
combinação dá origem a um outro mineral, também descrito pela primeira vez pela
equipe, a tobermorita de alumínio, que ajuda a explicar a resistência do
concreto imperial.
Ver Figura
Os pesquisadores caracterizaram pela primeira vez
os complexos minerais que explicam a durabilidade do concreto romano. [Imagem:
UC Berkeley]
Durável
demais
"O
concreto romano se mantém coerente e bem consolidada há 2.000 anos nos
agressivos ambientes marítimos," comenta Marie Jackson. "É um dos
materiais de construção mais duráveis do planeta, o que não é nenhum acidente -
o transporte marítimo estava na base da estabilidade política, econômica e
militar do Império Romano. Assim, construir portos que durassem era algo crítico."
E por que
as fábricas modernas não usam a tecnologia romana para fazer concreto durável?
"Você
pode argumentar que as estruturas originais romanas foram construídas tão bem
que, uma vez no lugar, elas não precisavam ser substituídas," sinaliza a
pesquisadora.
Outra
razão pode ser a pressa moderna: o concreto romano não endurecia tão
rapidamente quanto o concreto moderno.
Bibliografia:
Material and Elastic Properties of Al-Tobermorite in Ancient Roman Seawater Concrete
Marie D. Jackson, Juhyuk Moon, Emanuele Gotti, Rae Taylor, Sejung R. Chae, Martin Kunz, Abdul-Hamid Emwas, Cagla Meral, Peter Guttmann, Pierre Levitz, Hans-Rudolf Wenk, Paulo J. M. Monteiro
Journal of the American Ceramic Society
Vol.: Article first published online
DOI: 10.1111/jace.12407/abstract
Material and Elastic Properties of Al-Tobermorite in Ancient Roman Seawater Concrete
Marie D. Jackson, Juhyuk Moon, Emanuele Gotti, Rae Taylor, Sejung R. Chae, Martin Kunz, Abdul-Hamid Emwas, Cagla Meral, Peter Guttmann, Pierre Levitz, Hans-Rudolf Wenk, Paulo J. M. Monteiro
Journal of the American Ceramic Society
Vol.: Article first published online
DOI: 10.1111/jace.12407/abstract