Mão de obra qualificada, blocos em conformidade com as normas e projeto bem especificado são fundamentais para o sucesso deste tipo de obra
Por: Altair Santos
Na história da construção civil brasileira há relatos de que na década de 1960 surgiram os primeiros prédios emalvenaria estrutural. A tecnologia intensificou-se nos anos 1970, recrudesceu, mas a partir de 2009, quando foi lançado o Minha Casa, Minha Vida, praticamente transformou-se no sistema construtivo oficial do programa. Hoje, aalvenaria estrutural que utiliza blocos de concreto é a que predomina nas obras do MCMV. A intensidade de uso do sistema levou a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) a se debruçar, entre 2010 e 2011, na revisão das normas de blocos cerâmicos e blocos de concreto, assim como dos métodos de construção. As medidas focaram no combate às patologias.
Segundo as diretoras do CDTEC (Centro de Desenvolvimento Tecnológico S/A) Tayana Bianco Garcez Castellano Cunico e Lidia Krefer, as patologias que mais afetam a alvenaria estrutural são as fissuras, decorrentes dos seguintes problemas: variação de temperatura, principalmente nos pavimentos mais altos; cargas atuantes que excedam a capacidade resistente da estrutura solicitada; recalques nas fundações e o assentamento inadequado das aberturas, como portas e janelas. “Para que uma obra não venha a sofrer com patologias é sempre importante respeitar o sistema construtivo, ou seja, cada etapa deve ser realizada atendendo as particularidades de cada item”, ressalta Lidia Krefer.
A afirmação da tecnóloga é corroborada pelo gerente de desenvolvimento de produtos da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) Cláudio Oliveira Silva. “No último pavimento é preciso um cuidado especial com a movimentação da laje, caso contrário surgirão fissuras entre a laje e o respaldo da parede”, frisa. Ele alerta ainda que a alvenaria estrutural é o sistema construtivo que mais requer cumprimento das normas. “Os projetistas têm um guia normativo para ser cumprido. A partir do momento que o projeto segue as normas, o risco de patologias é muito pequeno”, diz.
As especialistas destacam ainda que na concepção dos projetos arquitetônicos em alvenaria estrutural deve-se estar atento a critérios como modulações, tipos de blocos, argamassa e graute. “A mão de obra também deve ser treinada para entender as particularidades do sistema construtivo, bem como ter ferramentas adequadas. A fiscalização eficiente das etapas executadas é outro fator decisivo no sucesso desta tecnologia”, diz Tayana Bianco, sem esquecer que a manutenção também é componente relevante para a alvenaria estrutural. “A conservação preventiva está prevista em norma, assim como são vetadas alterações arquitetônicas sem autorização do projetista da obra”, complementa.
Blocos de concreto
É preciso observar ainda a conformidade dos blocos de concreto. A não obediência das características físicas em relação à análise dimensional, como largura, altura e comprimento, pode acarretar falhas na modulação, tanto horizontal quanto vertical, assim como na precisão geométrica do conjunto – fundamental para a segurança das paredes que serão elevadas. Já quanto à absorção dos blocos, se a porcentagem recomendada for superior ao especificado as paredes ficam porosas e podem rapidamente absorver umidade e causar infiltrações, manchas e bolor no revestimento interno. “Se essas especificações forem insatisfatórias, tendem a prejudicar a integridade e a segurança de toda a estrutura”, destaca Tayana Bianco.
Neste item, mais uma vez Cláudio Oliveira Silva confirma o que diz a engenheira. “Como estamos falando de um sistema que vai receber o carregamento da estrutura, construir com um bloco que não atenda a resistência mecânica especificada no projeto traz um risco muito grande para essa estrutura. Então, eu diria que usar blocos em conformidade, aliada a uma mão de obra bem treinada, assim como o cumprimento das normas, permite que uma edificação em alvenaria estrutural gere uma economia de até 30% em relação à alvenaria convencional, em se tratando de um edifício de até quatro pavimentos”, compara.
Outro elemento importante para o sucesso da alvenaria estrutural é a argamassa de assentamento. Ela possui as funções básicas de solidarizar os blocos de concreto, transmitir e uniformizar as tensões entre as unidades de alvenaria, absorver as deformações naturais a que a alvenaria estiver sujeita e selar as juntas contra a penetração da água da chuva. “Por isso, devem ser aplicadas as espessuras de juntas horizontais e verticais dentro dos limites das superfícies estabelecidas e tolerâncias de norma, pois é através deste material que podem ser detectados os primeiros sinais de falhas de todo o conjunto da estrutura”, lembra Lidia Krefer, citando as normas que regulamentam a alvenaria estrutural:
- ABNT NBR 15961- Alvenaria Estrutural – Blocos de concreto – Parte 1: Projeto.
- ABNT NBR 15961- Alvenaria Estrutural – Blocos de concreto – Parte 2: Execução e controle de obras.
- ABNT NBR 6136 – Blocos vazados de concreto simples para alvenaria – Requisitos.
- ABNT NBR 12118 – Blocos vazados de concreto simples para alvenaria – Métodos de ensaio.
- ABNT NBR 15812 – Alvenaria Estrutural – Blocos Cerâmicos – Parte 1: Projeto.
- ABNT NBR 15812 – Alvenaria Estrutural – Blocos Cerâmicos – Parte 2: Execução e Controle de obras.
- ABNT NBR 5738 e 5739 – Moldagem e ensaio de resistência à compressão do graute.
Entrevistados
Tayana Bianco Garcez Castellano Cunico e Lidia Krefer, diretoras do CDTEC (Centro de Desenvolvimento Tecnológico S/A), e Cláudio Oliveira Silva, gerente de desenvolvimento de produtos da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland)
Currículos
- Tayana Bianco Garcez Castellano Cunico é graduada em engenharia civil pela UTP (Universidade Tuiuti do Paraná) com pós-graduação em gestão da qualidade pela FAE (Faculdade de Administração e Economia)
- Atua como Diretora Técnica do CDTEC desde 2002
- Lidia Krefer é graduada em tecnologia da construção civil pela UTFPR, e especialista em concreto pelo IDD
- Atua como gerente técnica do CDTEC desde 2006
- Localizado em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, o CDTEC atua no controle tecnológico do concreto e da alvenaria estrutural, prestando assessoria quanto aos ensaios necessários dentro das recomendações das normas que englobam todo sistema, bem como os especificados no projeto estrutural
- Cláudio Oliveira Silva é graduado em engenharia civil pela Universidade de Guarulhos (1993) com mestrado em materiais de construção e administração industrial pela USP (Universidade de São Paulo), além de marketing pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing)
Créditos fotos: Chico Rivers / ABCP / Divulgação