Pergunta:
Comecei a construir um médio complexo industrial no interior de São Paulo. A água a ser utilizada no concreto é de um antigo poço existente no local. Esta água tem um forte cheiro de enxofre, muito parecido
com o cheiro de ovo podre. Gostaria de saber se esta água poderá afetar as propriedades do concreto a
ser executado na obra. Se a água é deixada em um copo de um dia para o outro, o cheiro desaparece.
Engº José Gerardo Silva Pontes - SP
Resposta:
A resposta a sua pergunta deve ser dada abordando os aspectos físico e químico. Primeiro a análise pelo
critério físico. O cheiro é de sulfeto de hidrogênio, gás solúvel em água, muito comum em poços dágua.
O Boletim nº 119 da Associação do Cimento Portland americana (PCA) informa que a quantidade de sulfeto de hidrogênio em águas industriais pode variar de 0 a 15 partes por milhão (ppm). Pequenas quantidades em torno de 0,5ppm causam um odor bem característico. O Boletim também informa que mesmo uma quantidade de 15ppm na água de amassamento dificilmente poderá afetar a resistência física do concreto. O ideal é fazer dois conjuntos de amostras de Meu Problema argamassa moldados com esta água e com água potável da região, conforme recomenda a norma brasileira ou mesmo a norma ASTM C109. A água será considerada boa se a resistência dos corpos de prova derem resistências superiores a 90% daqueles feitos com água potável. Agora o aspecto químico. O sulfeto de hidrogênio ou H2 S é um gás incolor, altamente tóxico e facilmente reconhecido por seu cheiro forte. É encontrado em ambientes onde há esgoto.
A concentração de sulfeto de hidrogênio em lagoas onde o esgoto é lançado (vide nossas lagoas) ou principalmente em ETEs varia muito, sendo gerado durante a decomposição microbiológica do esgoto sólido. A quantidade de H2 S formado dependerá de diversos fatores:
A quantidade de esgoto sólido na corrente líquida.
O número de micróbios ativos presentes.
Do tempo necessário à digestão do esgoto.
Temperatura.
Turbulência.
Da relação entre volumes relativo ao nível do esgoto e da seção da tubulação, canal ou lagoa.
Não há qualquer dúvida que o H2S é corrosivo ao concreto e ao aço, já que é um ácido, embora fraco, que penetra no concreto e em contato com as armaduras forma sulfetos ferrosos. Certos micróbrios usam o H2S assim como usamos o oxigênio para respirar, convertendo materiais como os politionatos em ácido
sulfúrico, excretado como produto metabólico. Usam o concreto e o aço como moradia ou plataforma, ocorrendo aí o crescimento de colonias sinérgicas de vários tipos de bactérias, fungos, mofo e etc, acelerando o processo de corrosão. Esta classe de bactéria é chamada de bactéria redutora de sulfatos (BRS) e um tipo, o tiobacilus, excreta ácido sulfúrico em concentração que varia de 1% a 40%. O tiobacilus é aeróbico e não penetra no concreto. Desta forma, é possível ver os danos que apronta na superfície.
Outros tipos, no entanto, são anaeróbicos (virem em ambientes onde não há oxigênio livre) penetrando
na massa do concreto, através dos poros e cavidades, atacando também as armaduras. Um exemplo deste tipo anaeróbico e BRS é a desufovíbrio desulfurocans que se alimenta do ferro contido no aço, como uma espécie de catalizador para reduzir os politionatos e produzir o ácido sulfúrico, que é depositado diretamente na superfície do aço. Uma medida de proteção ou tratamento desta água seria o aumento do teor de oxigênio de modo a manter a desejada condição aeróbica (acima de zero). O oxigênio livre impedirá o crescimento de bactérias anaeróbicas. Este serviço pode ser realizado injetando ar fresco na água
http://www.recuperar.com.br/meuproblema/meuproblema40.pdf