Para comprar concreto, não basta apenas querer. Infelizmente, é preciso conhecer um pouco sobre o produto. E quanto maior for a tua obra, quanto mais arrojado for o teu projeto, maior será esse pouco a se saber. E quando o assunto é fazer o teu próprio concreto, aí a coisa complica bastante. Seriam necessárias muitas e muitas postagens aqui para cobrir o mínimo. Porque o concreto irá cumprir um papel de responsabilidade grande demais na construção, principalmente se você estiver “apenas” construindo a laje da casa da tua família. É de suma importância que a especificação seja feita de forma estritamente correta, seguindo as recomendações de um Engenheiro inteirado sobre os detalhes do empreendimento.
O primeiro passo é conhecer a normalização técnica. Existe uma norma para projeto de estruturas de concreto, uma norma exclusiva para especificação do concreto, uma norma para execução de estruturas, uma norma para determinar as diretrizes a serem seguidas por uma central dosadora de concreto, normas para padronizar as diversas matérias primas, etc. O acervo é muito numeroso e muito rico, trazendo praticamente tudo que é necessário para uma boa especificação. Estas normas são editadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), através do Comitê Brasileiro de Cimento, Concreto e Agregados (CB-18, hoje presidido pela competentíssima e gentil Inês Battagin).
Uma das norma mais importantes que o construtor deve conhecer, não apenas para especificar bem, é a NBR 12655:2006 “Concreto de cimento Portland - Preparo, controle e recebimento – Procedimento” Para começar, esta norma divide os ambientes e os classifica de acordo com o grau da agressividade que estes ambientes imprimem sobre o concreto. E, conforme a intensidade dessa agressividade, são estabelecidos os parâmetros mínimos para garantir a durabilidade das estruturas ali construídas. Hoje, não basta apenas dimensionar as estruturas para suportar cargas, também é preciso prepara-las para durar. Esta norma sofreu sua última revisão, justamente para incorporar este conceito.
Em linhas gerais, o especificador precisa conhecer as seguintes “responsabilidades”, ou seja, os parâmetros a serem obedecidos pela empresa concreteira:
1. As propriedades mecânicas. Nesta classe estão englobados parâmetros como a resistência do concreto, elasticidade, idade de desforma, etc;
2. Os parâmetros de durabilidade. Aqui se determina o consumo mínimo de cimento, fator agua / cimento máximo, tipo de cimento a ser usado e qualquer outra condição de qualidade adicional;
3. As medidas de consistência do concreto. Determinam-se os valores mínimos e máximos de ensaios que auxiliam a medir a trabalhabilidade do concreto, como “slump”, “Slump flow”, funil V, Caixa L, etc, conforme o tipo de lançamento e dificuldades da concretagem;
4. A dimensão máxima e outros parâmetros granulométricos: Conforme a densidade de armaduras e espessura da peça a ser concretada, os grãos dos agregados devem obedecer a um tamanho máximo. Além disso, algumas operações especiais, como pisos industriais e fundações profundas exigem especificações adicionais;
5. Condições especiais: É importante se relatar informações mais detalhadas sobre concretagens especiais, diferentes do normal. O uso de equipamentos especiais para o acabamento, a ocorrência de congelamento e degelo, temperaturas de trabalho elevadas, exigências de resistência à abrasão, aspectos estéticos, uso de fibras (marca, tipo e quantidade), concretagem de grandes volumes, toda informação é valida.
Estes conhecimentos são importantes na hora de se especificar o concreto a ser comprado, porque eles podem ser o fator determinante no sucesso do empreendimento. Uma especificação mal feita pode até levar a colapsos estruturais e perda de vidas! A responsabilidade é grande demais e só quem já passou por uma situação de patologia estrutural sabe a dificuldade e o transtorno que é encontrar e implantar uma solução. Reforços estruturais e demolições são um verdadeiro pesadelo financeiro, operacional e de marketing. Já evitar os problemas é simples e relativamente muito barato.
_Mas eu não tenho uma construtora e não estou construindo um prédio. Quero “apenas” concretar a laje da minha casa!
Bom, se você não tem o apoio técnico de um engenheiro (deveria!) Então precisa procurar uma concreteira que lhe ofereça o suporte necessário. Já existem opções de empresas no mercado que colocam à disposição dos pequenos clientes pacotes de serviços que lhe darão a segurança e garantia que precisa, com exclusividade.
_Eu tenho uma construtora pequena e não temos um departamento de planejamento que conte com especialistas em tecnologia de concreto...
Então, você pode contratar uma consultoria para te ajudar a especificar o concreto. E um consultor poderá ser imprescindível, no caso de concretagens especiais, estruturas complexas ou onde o grau de agressividade é maior. Ele poderá, ainda, atuar em conjunto com a concreteira opinando e fiscalizando o desenvolvimento do traço de concreto. Ele poderá treinar sua equipe de campo, te ajudar a preparar procedimentos para especificação e controle tecnológico e analisar projetos, propostas técnicas e licitações. Acompanhamento das concretagens, planejamento de ensaios, validação de laudos, enfim, ele irá garantir um sono tranquilo para você e sua equipe.
Então, durma tranquilo. Faça a coisa certa!
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