De uma forma geral, o
empacotamento aleatório de monodispersões (partículas de um único tamanho) esféricas
resulta sempre em um mesmo fator de empacotamento (≈ 0,60-0,64),
porém uma série de fatores pode alterar o empacotamento de um determinado
conjunto de partículas.
1- O
primeiro a ser considerado é a existência de partículas com distribuições
granulométricas diversas alterando a condição de dispersão inicial. Com isso,
podem-se obter sistemas com fatores de empacotamento elevados - próximos de 1 -
até misturas onde esse fator se aproxima do nível das monodispersões.
2- O
outro fator que pode alterar a condição de empacotamento é a morfologia das
partículas. Quanto menos esférica for a partícula, menor será a densidade de
empacotamento de uma distribuição que a contenha, pois se verifica o atrito
entre as partículas a partir do contato de suas superfícies irregulares. Quanto
menor o tamanho das partículas irregulares, maior será esse efeito, devido à
maior área superficial específica.
3- A
porosidade interna das partículas também altera a densidade de um material. As
partículas podem ser totalmente densas, com porosidade interna fechada ou com
porosidade aberta. Para se obter um empacotamento com densidade máxima,
considerando uma determinada distribuição granulométrica, é necessário que se
utilizem partículas não porosas; porém essas partículas não são as mais usuais.
Para efeito de distribuição granulométrica, as partículas que apresentam porosidade
fechada são semelhantes às densas, porém resultam em misturas com densidade
superior. Já as partículas que apresentam porosidade aberta perturbam o
empacotamento devido ao seu formato irregular e também resultam em misturas com
menores densidades de empacotamento. Empacotamentos com menor porosidade podem
ser obtidos se os vazios existentes entre as partículas de uma dispersão forem
preenchidos por partículas menores que os mesmos. Porém, caso sejam
introduzidas partículas maiores que os vazios existentes, essas promoverão o
surgimento de novos vazios, levando a um aumento na porosidade e redução da
eficiência do empacotamento. Assim, a sequência de preenchimento dos vazios
existentes entre as partículas, ou melhor, a distribuição granulométrica do sistema
determina o aumento ou não da densidade de empacotamento da monodispersão.
Aproximadamente metade das
partículas de adições minerais e dos cimentos tem formato próximo ao de uma
esfera, porém a porção relativa dessas partículas diminui durante o curso da
hidratação de suspensões à base de cimento em decorrência da formação de
partículas com forma irregular, o que é mais evidente em misturas contendo
sílica ativa. Assim, as primeiras horas da hidratação de suspensões à base de
cimento são caracterizadas por variações no diâmetro efetivo e na distribuição
granulométrica das partículas. Diversos fatores contribuintes acontecem
simultaneamente: por um lado, a dissolução das partículas de cimento e a
diminuição do seu diâmetro efetivo; e, por outro lado, a aglomeração das
partículas pequenas.
Analisando a influência da
distribuição granulométrica sobre a densidade de empacotamento e o grau de
hidratação de um sistema à base de cimento verifica-se que uma distribuição
contínua de partículas é muito procurada para o estado de empacotamento,
enquanto uma distribuição heterogênea é mais adequada para a taxa de
hidratação. Assim, os dois efeitos são exatamente opostos; porém, para as
propriedades dos materiais, eles devem ser considerados simultaneamente: por um
lado, uma maior densidade de empacotamento é necessária, enquanto que, por
outro lado, um maior grau de hidratação é desejável. Resumidamente, o material
deve ter a menor porosidade possível Além disso, a dosagem de uma mistura
depende da densidade de empacotamento: a menor porosidade é coincidente com a
máxima densidade de empacotamento, onde o grau de hidratação é geralmente
menor, definindo a dosagem ótima para uma mistura. Isso mostra que o efeito da
densidade de empacotamento é o fator mais importante.
A distribuição granulométrica
também pode influenciar na demanda de água necessária para produzir uma mistura
com trabalhabilidade adequada aos processos de aplicação e adensamento. A
demanda de água da mistura está relacionada com a área superficial e com
densidade de empacotamento das partículas: quanto maior a área superficial e
menor a densidade de empacotamento, maior a demanda de água. Assim, mantendo-se
a área superficial constante, quanto mais estreita for a distribuição
granulométrica das partículas, maior será a demanda de água para se obter uma
mistura com trabalhabilidade adequada.
Quando a relação água/cimento é
mantida constante, a área superficial aumenta com o aumento da densidade de
empacotamento. Em outras palavras, pode-se dizer que a área superficial pode
aumentar sem acréscimo da demanda de água por meio de ajuste na distribuição
granulométrica das partículas. Porém, deve-se observar que esse efeito é muito
limitado: como a densidade de empacotamento é menor que 1, deduz-se que a área superficial
máxima seja igual a razão entre a relação água/cimento e espessura do filme
d'água ao redor das partículas; quando a área superficial for maior que a área
superficial máxima, o aumento desse parâmetro sempre será acompanhado de um
aumento na demanda de água.
Além dos fatores relacionados com
as características do sistema de partículas - distribuição granulométrica,
morfologia, porosidade - a forma como essas partículas são colocadas em suas
posições de equilíbrio deve ser considerada quando se deseja obter
empacotamento máximo. No empacotamento de camadas sucessivas, cada camada
monodispersa possui o mesmo fator de empacotamento e a mistura de diversos
diâmetros não contribui para o preenchimento dos vazios existentes entre as
partículas, resultando em um empacotamento global semelhante ao de uma
monodispersão; porém, quando as partículas menores ocupam os interstícios entre
as partículas maiores, o empacotamento é otimizado, diminuindo a porosidade do
sistema. Assim, uma mesma distribuição granulométrica pode gerar empacotamentos
distintos dependendo da técnica de compactação adotada.
O estado de dispersão das
partículas também deve ser considerado quando se busca um empacotamento máximo.
A dispersão inadequada de partículas (formação de aglomerados) pode alterar a
curva de distribuição granulométrica inicialmente prevista, aumentando o
diâmetro mínimo efetivo da composição e, assim, reduzindo a densidade de
empacotamento. Além disso, os aglomerados formados equivalem a partículas
vazias que originam poros na microestrutura, prejudicando o desempenho mecânico
do produto gerado.
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